Caso Letícia: delegada detalha investigação e indica o que falta saber sobre morte após encontro em motel
24/05/2025
(Foto: Reprodução) Embora a causa da morte da jovem tenha sido asfixia, a delegada Fernanda Hetem afirmou que não há nos laudos a confirmação de como essa asfixia teria ocorrido, e apenas laudos complementares podem ajudar a responder essa questão. Caso Letícia: delegada da DDM de Indaiatuba explica o que falta para concuir investigação
A Polícia Civil de Indaiatuba (SP) aguarda laudos complementares para esclarecer a morte de Letícia Moreira Barbosa, de 24 anos, socorrida desacordada em um motel após encontro no dia 5 de abril. Embora a causa do óbito tenha sido apontada como asfixia, a delegada que cuida do caso afirma não ser possível ainda determinar como essa asfixia ocorreu.
Fernanda Hetem, delegada titular da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Indaiatuba, detalhou o que já foi produzido durante a investigação, do registro da ocorrência, depoimentos do suspeito e de testemunhas e laudos periciais, e ressaltou não ter elementos para pedir, neste momento, a prisão do homem que acompanhava Letícia no motel.
"Eu não tenho nada, nenhum elemento para prender esse rapaz. O que eu tenho é só que ela morreu de asfixia e ele estava junto no quarto, por enquanto é o que a gente tem. (...) Se vier provado que houve homicídio, ele vai ser preso, ele vai responder preso", garantiu.
Confira, abaixo, o que se sabe sobre o caso e o que falta saber ⬇️
Versão do suspeito
Do BO a circulação de mensagens
Morte por asfixia
Ato sexual e hemorragia
Investigação e indiciamento
A versão da família
Versão do suspeito
Segundo o boletim de ocorrência, Igor Brito Rocha da Silva disse à Polícia Civil que tinha um relacionamento com Letícia há cerca de três meses e que, no dia da morte, consumiram bebidas alcoólicas e energético antes de irem ao motel.
Durante a estadia, ainda de acordo com o relato dele, a vítima teve um sangramento na relação sexual. Ele teria avisado a jovem e ido ao banheiro se lavar, mas ao retornar, percebeu que ela estava inconsciente.
O homem, então, acionou os funcionários do motel para pedir ajuda. A vítima foi socorrida e encaminhada ao Hospital Augusto de Oliveira Camargo (HAOC), onde teve o óbito constatado.
Do BO a circulação de mensagens
O caso foi registrado como morte suspeita no plantão policial. O delegado Luís Philippe Braga Garcia Santos contou que recebeu as primeiras informações da Polícia Militar sobre uma mulher que teria sido socorrida e levada ao hospital em decorrência de sangramento.
Santos destacou ainda que, segundo a PM, não havia sinais de violência no quarto do motel, apenas o sangue da susposta hemorragia vaginal da vítima.
Diante dos fatos, o delegado plantonista determinou a realização de pericias, como os laudos necroscópicos e toxicológicos no corpo de Letícia, mas que não havia naquele sábado, dia 5 de abril, informações sobre a causa da morte.
Luís Phelippe conta que no mesmo dia começaram a circular informações em grupos de mensagens que a médica legista teria visto no corpo da vítima lesões relacionadas a violência sexual, traumatismo craniano e asfixia mecânica.
"Chegou ao meu conhecimento de maneira informal, teriam sido publicadas em grupos de policiais, e diante disso determinei que a viatura fosse até a casa dele para ser ouvido novamente. Ele estava com a família e compareceu a delegacia, eu o ouvi novamente, peguei o celular, ele forneceu a senha", detalha o delegado.
Ainda segundo Luís Phelippe, diante da circulação de informações de forma extraoficial, que incluia a de que o laudo estaria pronto e bastava buscá-lo no IML, ele pediu para falar com a médica legista, e recebeu a informação de que ela não iria emitir o laudo naquela data, pois aguardava exames.
O delegado destaca que assim que o laudo foi emitido, na segunda-feira, dia 7 de abril, havia a constatação de asfixia como causa da morte, mas o traumatismo e os sinais de violência sexual mencionados em grupos de mensagens não foram confirmados.
Letícia Moreira Barbosa, de 24 anos, morreu após um encontro em um motel de Indaiatuba (SP)
Arquivo pessoal
Morte por asfixia
A suspeita inicial era de que a morte teria sido provocada por uma hemorragia, conforme havia sido relatado pelo homem que estava com Letícia no motel, mas o laudo pericial apontou a causa do óbito como asfixia.
"(...) Ao exame da região do pescoço foi encontrada fratura do osso hiode, juntamente com outros sinais de asfixia, que é causado por trauma direto da região, como em uma esganadura, portanto a causa mortis foi em decorrência de asfixia", diz o trecho do documento.
A delegada Fernanda Hetem chama atenção para o trecho que diz que os sinais identificados seriam causados "como em uma esganadura", e não "por uma esganadura".
E que esse é um elemento importante a ser considerado no trabalho investigativo.
"Eu não tenho informação de como se deu essa asfixia, existem muitas maneiras de ter acontecido. Por isso, por eu não ter essa informação de como aconteceu, eu fiz um novo pedido de laudo complementar com quesitos específicos, porque da mesma maneira que pode ter havido uma esganadura, e pode ter havido uma esganadura, pode não ter havido, pode ter sido alguma outra coisa que causou asfixia na vítima", diz.
Fernanda Hetem contou que conversou pessoamente com médicos legistas para esclarecer pontos técnicos do laudo, e que não obteve a confirmação de que houve de fato uma esganadura - que foi negada pelo homem em todos os seus depoimentos.
"Eu pessoalmente conversei com outros médicos legistas e foram uníssonos em me dizer o seguinte: 'ainda não dá para afirmar com toda certeza que houve uma esganadura'. O que é a esganadura? A constrição do pescoço com as mãos (faz os gestos com as mãos)".
"Eu não tenho esse dado (confirmação da esganadura), embora estejam dizendo por aí que a gente já tem, a gente não tem essa informação. Então, estamos agora aguardando esse laudo complementar, aguardando o laudo toxicológico, que também pode mudar toda a perspectiva do caso, e depois, com base nesse laudo, que daí eu vou poder afirmar realmente ou não, mas eu acredito que com esse laudo eu consiga realmente determinar se foi um homicídio doloso, se foi um homicídio culposo, se foi uma morte acidental. Por enquanto, a gente só sabe que houve asfixia, só", afirma a delegada.
Outro ponto do laudo é a fratura do osso hioide, localizado na parte anterior do pescoço, abaixo da mandíbula. A delegada pediu mais informações para saber se ela foi causada antes ou depois da morte de Letícia, por exemplo.
Ato sexual e hemorragia
Fernanda Hetem detalhou que o suspeito foi indagado se durante o ato sexual teria apertado o pescoço de Letícia, mas o homem negou em todas as vezes que foi ouvido.
A delegada contou que ouviu duas ex-companheiras do suspeito para tentar identificar alguma prática sexual que pudesse indicar alguma ação relacionada a asfixia, indicando a possibilidade da morte mesmo que de forma culposa, ou seja, sem intenção.
Nos depoimentos, no entanto, as mulheres corroboraram as informações prestadas pelo suspeito, disse a delegada.
Outro ponto analisado pelo laudo envolve a lesão vaginal que provocou o sangramento em Letícia. Segundo Hetem, a jovem fazia uso de medicação por conta de um problema cardíaco, o que teria, após a lesão, favorecido o sangramento.
Essa lesão, inclusive, foi apontada pelos legistas consultados pela delegada como compatível com uma determinada posição em que a mulher está de costas para o companheiro, da mesma forma como foi relatado pelo homem em seu depoimento - ele alegou que acreditava que a jovem teria menstruado e foi se lavar, e ao voltar encontrou-a desacordada.
"Ccondiz exatamente com o que ele falou. (...) lacerou ali realmente, tem um ferimento ali, e que sangrou muito por causa da condição dela. É superficial, não é órgão interno. Não tem nenhum sinal de violência sexual, e no quarto não tinha nenhum sinal de luta", apontou Hetem.
Investigação e indiciamento
A expectativa da Polícia Civil de Indaiatuba é que os laudos complementares que podem determinar o que teria causado a asfixia que matou Letícia possam sair nesta semana.
A partir daí a delegada vai reunir os elementos e concluir se houve crime, seja ele homicídio culposo ou doloso, ou se o caso se trata de uma morte acidental.
"Eu preciso do laudo toxicológico e o laudo complementar do necroscópico, faltam esses dois laudos só. A gente quer saber a verdade, o que aconteceu", reforçou Hetem, que completou:
"Se eu não pedi a prisão dele é porque não preenche requisitos nenhum tipo de prisão cautelar que a gente tem. E como a gente sabe no Brasil, a regra é responder em liberdade, a regra é ser inocente até prova em contrário. Então, para eu prender, eu tenho que preencher requisitos, eu não tenho esses requisitos."
Fernanda Hetem, delegada titular da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Indaiatuba (SP)
Fernando Evans/g1
A versão da família
Ao g1, a família de Letícia contesta a versão do suspeito. Isso porque a jovem nasceu com uma doença cardíaca que levou a diversos procedimentos cirúrgicos desde a infância e, por conta dessa condição, não bebia álcool ou energético.
O pai da vítima relata nunca ter sido apresentado a Igor, com quem a filha estava saindo pela terceira vez no dia da morte. “Minha esposa diz que eles estavam começando a se conhecer. […] Até então ela [Letícia] não tinha namorado com ninguém ainda”, conta José Carlos.
Letícia era a filha mais nova do casal. O filho mais velho, diagnosticado com microcefalia ao nascer, morreu há cerca de três anos, após passar três décadas acamado.
"Minha filha não saía de casa. Ia de casa para o trabalho, passava na academia e vinha para casa. Ela ia trabalhar com a mãe dela para não ficar sozinha em casa. A gente ia à praia junto, ela ia cortar o cabelo junto com a mãe, ia fazer unha junto, compra junto. Tudo a gente sempre fez junto", lembra o pai.
Delegacia de Defesa da Mulher de Indaiatuba (SP)
Gustavo Biano/EPTV
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