Paraná anuncia ampliação de programa para saúde de educadores; em seis dias, duas professoras morreram durante expediente
07/06/2025
(Foto: Reprodução) Desde 2022, o programa Bem Cuidar atendeu mais de 10 mil servidores, segundo a Secretaria da Educação. Paraná anuncia ampliação de programa 'Bem Cuidar', voltado para a saúde de educadores
Lucas Fermin/Seed
A Secretaria de Educação do Paraná (Seed) anunciou nesta sexta-feira (6) a ampliação do programa Bem Cuidar, que oferece atendimento psicológico e psiquiátrico para servidores da rede estadual de ensino por meio de uma plataforma de teleconsultas.
✅ Siga o g1 PR no Instagram
✅ Siga o canal do g1 PR no WhatsApp
Segundo a Seed, um novo protocolo deverá promover atendimentos aos professores em todos os municípios, com realização de exames de rotina. A secretaria informou que será implementado um 0800 para acolhimento psicológico e orientações. Além disso, a Seed afirmou que a rede estadual de ensino conta com 203 psicólogos lotados nos Núcleos Regionais de Educação, atendendo estudantes e servidores.
Desde 2022, quando foi criado, o programa Bem Cuidar atendeu mais de 10 mil servidores, segundo a Secretaria da Educação. "A iniciativa vai redobrar os cuidados e a atenção à saúde física e mental dos profissionais da educação. A Secretaria reafirma seu compromisso e preocupação com uma educação humanizada e segura", afirma a Seed.
O anúncio foi feito após duas professoras morrerem durante o expediente em escolas estaduais, em um intervalo de seis dias. Leia mais a seguir.
LEIA TAMBÉM:
Decisão: Homem é condenado a mais de 6 anos de prisão por desmatamento na maior reserva de Araucárias do mundo
Caso Isis: Desaparecimento de adolescente grávida completa um ano sem paradeiro do corpo, nem data para julgamento do réu
Polícia: Criminosos invadem casa, esvaziam a geladeira, tomam banho e levam moto
Mortes em escolas
Silvaneide Monteiro Andrade e Rosane Maria Bobato eram professoras da rede pública e morreram durante expediente.
APP-Sindicato
Na sexta-feira (30), a professora Silvaneide Monteiro Andrade morreu durante o expediente no Colégio Estadual Jayme Canet, em Curitiba.
Segundo a APP-Sindicato, que representa os professores e funcionários das escolas do Paraná, ela sofreu um infarto. Silvaneide chegou a ser socorrida pelo serviço médico, mas não resistiu e morreu no local.
Seis dias depois, na tarde de quinta-feira (5), a professora Rosane Maria Bobato morreu, também durante o expediente, no Colégio Estadual Santa Gemma Galgani, na capital paranaense.
O sindicato informou que Bobato se sentiu mal em sala de aula, foi para a coordenação, onde foi acolhida, mas morreu no local.
A APP-Sindicato disse, por meio de nota, que lamenta profundamente a morte das professoras e informou que dirigentes do sindicato foram até as escolas para entender as circunstâncias dos falecimentos e prestar apoio e solidariedade aos familiares e à comunidade escolar.
"Ambos os casos levantaram um debate nacional relacionado com as condições de trabalho e o adoecimento dos professores que atuam na rede estadual de ensino do Paraná. A APP-Sindicato tem denunciado o modelo de gestão do ensino implementado pela Secretaria da Educação e o governo Ratinho Jr., baseado em metas absurdas de interação em plataformas educacionais, pressão e assédio", diz a nota enviada pela APP Sindicato.
Procurada pelo g1, a Secretaria Estadual de Educação disse, por meio de nota, que os desafios relacionados à saúde mental e emocional são parte de uma realidade nacional, e não exclusiva do estado. E afirmou que "além das ações estruturantes, a Secretaria também promove regularmente palestras, rodas de conversa e atividades educativas sobre saúde mental nas escolas da rede, como parte do trabalho de sensibilização, prevenção e acolhimento à comunidade escolar, cumprindo com a legislação vigente".
Sobre as metas relacionadas às plataformas digitais adotadas pelo Governo Estadual, a secretaria afirmou que os recursos são pensados para otimizar o tempo dos educadores e permitir que eles se concentrem na mediação pedagógica, reduzindo a sobrecarga com tarefas operacionais. "É importante esclarecer que o uso das plataformas digitais é facultativo e tem caráter de apoio pedagógico, não sendo uma exigência obrigatória", afirma a Seed.
"A SEED-PR entende o momento delicado vivido por toda a rede e reitera sua postura de escuta ativa, transparência e respeito a cada educador. A valorização da carreira docente é uma prioridade da atual gestão, que se traduz não apenas em palavras, mas em ações efetivas voltadas ao cuidado, ao reconhecimento e ao apoio contínuo aos profissionais que constroem, todos os dias, a educação pública do Paraná", afirma a Secretaria Estadual de Educação, por meio de nota.
Especialista aponta necessidade de políticas públicas
Everton Grison, que pesquisa o impacto psicológico dos desafios da docência, aponta a necessidade da construção de políticas públicas para além do Bem Cuidar.
"Um aplicativo de marcação de consultas não é representação de política pública. Política pública exige bem mais do que isso. Exige esforço político, exige legislação de amparo e organização e esforço, vontade política para fazê-lo", defende.
No Paraná, a Lei nº 14.992, sancionada em 2006, prevê a criação do Programa Estadual de Saúde Mental Preventiva, direcionado para professores da rede pública estadual com o objetivo de prevenção do adoecimento dos docentes. No entanto, o programa nunca foi criado.
Em 2019 educadores passaram a criar comissões de saúde nas escolas estaduais, com o objetivo de mapear o desgaste mental entre os professores e trabalhar o cuidado com a saúde mental.
A ação, realizada em mais de 100 colégios do Paraná, estudava a condição de trabalho dos profissionais, além de fazer a análise das circunstâncias efetivas do ambiente em que os docentes atuavam. As comissões apontavam as situações que colocavam a saúde do trabalhador em risco, por meio dos relatos dos professores.
Relembre a série 'Além do 29 de abril', que traça um panorama da educação no Paraná:
O policial que virou professor após presenciar violência contra educadores em 1988 e protestou ao lado deles em 2015
Professora levou flores para o protesto e voltou para casa com restos de bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha
Dez anos depois, feridos estão com ações de indenização congeladas enquanto STF avalia o caso
O policial que virou educador após presenciar violência contra professores
VÍDEOS: Mais assistidos do g1 Paraná
Leia mais notícias no g1 Paraná.