Paul Krugman faz nova crítica às tarifas de Trump contra o Brasil: 'descaradamente ilegal' e 'não tem nada a ver com economia'
11/07/2025
(Foto: Reprodução) Economista afirma que republicano não coloca motivos econômicos para a aplicação das tarifas contra produtos brasileiros e destaca que Trump está tentando interferir na política de outro país. Paul Krugman critica Trump por tarifa de 50% aplicada ao Brasil
O economista norte-americano Paul Krugman voltou a criticar as tarifas de 50% impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra o Brasil.
Em texto publicado nesta sexta-feira (11), o vencedor do Nobel de Economia afirma que a taxação é "descaradamente ilegal" e afirma que a decisão do republicano "não tem nada a ver com economia", mas sim é uma "tentativa de interferir na política de outro país".
"Escrevi outro dia sobre a tarifa de Trump para o Brasil, que é, como eu disse, maligna e megalomaníaca. Mas esqueci de destacar que ela é descaradamente ilegal", diz o economista.
"Talvez — provavelmente — a Suprema Corte esteja tão corrompida neste ponto que irá ratificar qualquer coisa que Trump fizer. Mas não podemos ao menos colocá-los contra a parede? Não podemos forçar Scott Bessent a explicar por que apoia um abuso tão grotesco do poder presidencial?", continua Krugman.
O vencedor do Nobel de Economia explica que a lei dos EUA realmente dá ao Poder Executivo muita "margem" para impor tarifas sem legislação adicional.
"Isso existe por um motivo: tarifas temporárias foram concebidas como uma válvula de escape política que tornaria sustentáveis as tarifas baixas resultantes de acordos internacionais. Isso funcionou bem enquanto tivemos presidentes responsáveis; tem sido um desastre sob Trump", afirma.
Ainda de acordo com Krugman, as tarifas só podem ser impostas por motivos específicos. Veja abaixo:
Seção 201- disrupção de mercado: a seção determina que se houver um aumento repentino nas importações que coloque alguma indústria dos EUA em risco, o governo pode impor tarifas temporárias para dar tempo à indústria de se readaptar;
Seção 232 - segurança nacional: a lei determina que tarifas podem ser usadas para sustentar indústrias que possam ser necessárias durante confrontos internacionais;
Seção 301 - práticas desleais: nesse caso, a seção determina que tarifas podem ser usadas para compensar, por exemplo, subsídios à exportação de países estrangeiros;
Direitos antidumping: determina que tarifas possam ser impostas quando empresas estrangeiras venderem abaixo do custo;
Emergência Econômica Internacional: determina que o presidente dos EUA tem amplos poderes para definir tarifas durante uma crise econômica.
Paul Krugman em encontro com Biden na Casa Branca, em agosto de 2023
Adam Schultz/Official White House Photo
Segundo Krugman, Trump "abusou enormemente" dessas justificativas — principalmente da última, uma vez que os EUA não passa por nenhuma emergência econômica e, segundo o próprio Trump, a atividade do país está indo muito bem.
"Mas a tarifa contra o Brasil é outra coisa: não tem nada a ver com economia, é uma tentativa de interferir na política de outro país. Quem diz isso? O próprio Trump", diz o economista, destacando o início da carta enviada pelo republicano ao presidente brasileiro.
No caso da carta enviada ao Brasil, Trump escreve já no primeiro parágrafo sobre o quanto conhece e respeita Jair Bolsonaro (PL), afirmando que a forma com a qual o país está tratando o ex-presidente é uma "vergonha internacional".
Para Krugman, a carta é "basicamente uma confissão" de que as tarifas impostas pelo republicano não é baseada em motivos econômicos. "E isso não é permitido legalmente", afirma o economista.
"Recado para a grande mídia: Não, Trump não está “testando os limites de sua autoridade” ou qualquer outro eufemismo. Ele está violando a lei. Ponto final. E isso deveria ser noticiado dessa forma.", conclui.
Defensor de Bolsonaro
Nesta sexta-feira (11), o presidente norte-americano afirmou que pretende conversar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre as novas taxas "em algum momento, mas não agora", destacando que ele está "tratando o presidente Bolsonaro de forma muito injusta".
Essa não foi a primeira vez que Trump saiu em defesa de Bolsonaro — nos últimos dias, o presidente norte-americano publicou diversas mensagens em suas redes sociais sobre o assunto.
Nas postagens, Trump declarou que o ex-presidente deveria ser “deixado em paz” e sugeriu que ele está sendo perseguido. O republicano chegou a utilizar a expressão “caça às bruxas” para se referir ao julgamento de Bolsonaro, que réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado.
Lula respondeu afirmando que o processo judicial contra os envolvidos na tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro de 2023 é de competência exclusiva da Justiça brasileira, e “não está sujeito a nenhum tipo de ingerência ou ameaça que fira a independência das instituições nacionais”.
“O Brasil é um país soberano com instituições independentes que não aceitará ser tutelado por ninguém”, disse Lula, em manifestação oficial após a publicação da carta de Trump nas redes sociais.
Em entrevista ao Jornal Nacional desta quinta-feira (10), Lula também disse o Brasil quer negociar, mas cobrou respeito às decisões brasileiras e admitiu responder com tarifas iguais se não houver acordo.
“É importante a gente deixar claro para opinião pública que não é uma taxação ao Brasil. Ele vem taxando todos os países do mundo desde que tomou posse. É um direito dele, mas é um direito dos países reagir”, disse Lula.